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terça-feira, 13 de abril de 2010

Causas nobres e lucros associados

Toda gente deve conhecer as mais variadas formas actualmente usadas para angariar fundos a favor de determinadas causas, desde a causa maior, missão sorriso e agora talvez a mais actual - a ajuda à Madeira.
Nas duas primeiras, o valor angariado era inicialmente obtido retirando uma parte ao valor da venda do produto, sendo complementado com donativos via chamada telefónica no decorrer das galas respectivas. Como estas campanhas são altamente divulgadas os números das vendas desses produtos são vertiginosamente mais altos do que o normal, como devem calcular. 
Apesar de este tipo de iniciativas ser de louvar, acho que é importante não nos esquecermos que existem muitas partes envolvidas nestes projectos. Desde o próprio fabricante do produto, que quanto mais produzir, mais vende e, logicamente, mais ganha, ao distribuidor, até chegar às lojas de venda ao público. Normalmente este tipo de produtos é relativamente barato, no entanto, multiplicando esse pequeno valor pelo grande número de produtos que habitualmente se vende (a ver pelos valores angariados) chegamos certamente a um valor considerável. Quem é que lucra com tudo isto para além do destinatário dos fundos? Eu sei que vocês sabem a resposta...
Mas o caso que mais me deixou pensativo foi o das chamadas telefónicas. Agora estão muito na moda os números começados em 760, cuja a chamada tem um preço fixo de 0.60€+IVA independentemente do tempo, local, de estar a chover ou até a nevar naquele momento. Este tipo de linhas é actualmente usado em quase tudo, inscrição em programas, votações, participações em passatempos (tão estúpidos que até dizem a resposta porque o que interessa é a pessoa ligar e gastar os 60 cêntimos... mais IVA), concursos a altas horas da madrugada (com meninas muito sexy e quase em lingerie para chamar mais gente) incentivando incessantemente as pessoas a ligar, ligar, ligar, com o chamariz de poderem ganhar algum dinheiro, quando na realidade talvez a grande maioria acabe por não ganhar nada, apenas descobre o quanto perdeu, quando der conta do valor que gastou em chamadas! Em tempos de crise e pensando que iriam ficar mais ricas, acabam mesmo por ficar é ainda mais pobres... Moral da história, uns tentando sair da crise, afundam outros cada vez mais. E o país assiste impávido e sereno. Lindo!
Vou dar um exemplo que se passou comigo. Numa altura em que tinha algum dinheiro acumulado do meu telemóvel, estava no ar uma campanha em que de x em x chamadas eram oferecidos bilhetes para um determinado jogo de futebol. O valor das chamadas que eu tive de fazer até conseguir ganhar o tal bilhete totalizavam (mais euro menos euro) o valor do bilhete em si caso eu fosse compra-lo à bilheteira! A única satisfação que tive foi o facto de o ter comprado com o dinheiro do telemóvel em vez de o ter ido buscar ao meu bolso. Agora eu pergunto, se eu e provavelmente todas as outras pessoas que ganharam, pagaram o seu próprio bilhete com as suas chamadas, para onde foi o dinheiro das chamadas dos restantes que eventualmente não ganharam nada?! E não devem ter sido poucas...
A ideia de receber um donativo através de uma chamada telefónica é óptima, excelente mesmo, o que me faz pensar são apenas dois pormenores associados à "estratégia" que eu ainda não consegui perceber muito bem. 
O primeiro é porque é que apenas 50 cêntimos da chamada são parte do donativo? Sim, 10 cêntimos não é nada, correctíssimo! Agora multipliquem isso por um milhão de chamadas? Será que a infraestrutura implementada para receber e contabilizar as ligações, que duram apenas alguns segundos, fica tão cara?! Pois! Não sei... Alguém da área me pode esclarecer?
O outro é o IVA, sim, para quê o 60 cêntimos mais IVA? Será que esse valor vai para o estado ou para juntar ao donativo? Quem souber que me avise... Ah! Não me venham com o argumento de que estou a pagar imposto por usar o serviço telefónico pois é assim: em primeiro lugar eu não o uso, nunca liguei, em segundo lugar, e se fosse assim, não teria mais lógica pagar imposto sobre os 10 cêntimos e não sobre os 60, estou errado? Sempre pensei que os donativos estavam isentos de IVA!

Para terminar, parabéns a todas as entidades que organizam e participam neste tipo de iniciativas, a mensagem não pretende colocar o seu trabalho, nem a sua intenção, nem boa vontade em causa, apenas alertar para algumas dúvidas que "pairam no ar".

1 comentário:

  1. Olá!
    Não deixa de ser pertinente a tua questão. Não está aqui em causa o espirito solidário das acções humanitárias e/ou de ajuda a causas várias, acções essas que são sempre de louvar.
    Interessa, sim, o que está por detrás, nos bastidores. Este tema fez-me lembrar um programa que dá no Discovery Channel, "How it´s made". Explica como é que os objectos são feitos e o que está por detrás de determinadas acções que consideramos tão comuns. A doação monetária seria um bom exemplo. O que é que acontece ao nosso dinheiro quando telefonamos para algum lado? Quanto é que reverte para a causa humanitária em si e como é que as verbas lá chegam? E como é que são distribuidas? Quais os critérios?
    Beijinhos,
    Sofia

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